1 - Onze
Compositores: Guilherme de Sá / Ricardo Domingues
Compositores: Guilherme de Sá / Ricardo Domingues
Deixe para trás
Os bons nunca valeram nada
Na boca de quem não presta
Não sente a mesa
Onde se fala mal de alguém
Ao levantar-se você vira o assunto
E o alvo final
Onze então dirão
Prego que sobressai, martelada leva
E se a madeira rachar, coitado do ego
Quem fala uma vez, não fala duas
Mas quem fala dez, certamente
Falará onze
Ou mais
Trinta, quarenta
Cinquenta!
Não sente a mesa
Onde se fala mal de alguém
Ao levantar-se você vira o assunto
E o alvo final
Porque o conselho ainda vale
Tome nota
Quem elegeu a procura
Não há de recusar a travessia
Onde toda gente peca
Ninguém faz penitência
Quem busca o que não convém
Perde o que quer e o que tem
Tome nota
O que é do comum é de nenhum
Mal de muitos, consolo é
Mas ai de quem tem um céu
E não elege apenas uma estrela
Onde toda gente peca
Ninguém faz penitência
(Confesse!)
Quem foge do juiz
Confessa o perjúrio
Eis o múnus da cicatriz
Uma noite com Vênus
O resto da vida com mercúrio
O mundo não quer saber
Dos temporais que você encontrou no mar
Ele quer saber se você trouxe o navio
Lembre disso quando a tormenta vir
Então vê, terás de ser forte
Quando mais ninguém for por ti
Estarão ocupados
Com seu próprio naufrágio
Eles falam de você
Porque se falassem de si mesmos
Não haveria quem ouvir
E ao não te superar
Vão te diminuir
A vaidade tem afogados narcisos
Que jamais saberiam qual gota
Lhes fez a respiração parar
Desvendaram que o feitio das águas
São cruéis com os mareantes
Talvez porque o oceano
Afunda mistérios demais
Sempre que pensar em desistir
Pense naqueles que adorariam
Ver você fracassar
Sim, a vida é dura
Mas é justa e muito
Se não agora, depois
A justiça não falha
Não termina aqui
Onde tardam as potestades
E os principados se vendem
Quanto a ti
Se a chuva te deprime
Não provoque a tempestade
Desrazão
É ter que parar de gastar
Para ter dinheiro pra gastar
Eis a soma da insipiência
Porque sua fortuna
Não está nas coisas que possui
Mas naquilo que jamais venderia
Ora, aquele que se vende
Recebe mais do que vale
E revela o seu preço
Ao lhe rogarem uma prata
Deveras, riqueza e pobreza
Fracassaram em suscitar a felicidade
Porém, quem é incapaz de ser pobre
Não é capaz de ser livre
Sim
Pequena é a vida
Se o pouco não basta
Ao miserável que possui o mundo
E reclama da esmola dada ao indigente
Ouça, se o que deseja é ser grande
Tenha um amigo de verdade
Então poderá bradar
A verdade é minha
É triste
Quem não tem à quem se ater
Enquanto o avião cai
O que seria do ateu
Se não tivesse Deus para não crer?
Pobre, rude, tenso, pequeno
O homem só é grande de joelhos
O que faria o arrogante
Ante o amor que pleiteia ser o adeus?
E nem consegue ser o Deus de si mesmo?
O homem só é grande de joelhos
Mesmo o trigo
Se curva com o vento
Ateu, ateu, ateu
O homem só é grande de joelhos
Mesmo o trigo
Se curva com o vento
Eu não sou flor que se deixe pra trás
Quem és tu, outono
Que ousa não regar as minhas folhas?
Perdoa-me, ó verão de maio
Por não apreciar o equinócio
É que eu não estimo
Aquele que se aproveita de meu findar
Onde está o perfume de sua seiva?
Tu apenas tinges o chão
Enquanto outros escorregam em ti
Não me culpe pelo seu fim
Eu sou o que de ti restou
Seu findar
Árvore que enverga, o vento não quebra
Se fracos fôssemos nós
Flor tu não serias
Nem eu existiria
É o inverno que me mata
Ao me separar de ti
Deixo-te a minha folha seca
Para que compreendas
Que somente juntos
Voltamos fortes
Eu desafio-te a estar
No exato momento em que está
Sem lembrares do passado
E esperares o futuro
Desafio não, eu aposto
Duvido que não consegues por um dia
Um dia apenas
E amá-lo
O amor não envelhece, morre menino
Tem que ser imenso pra saber ser sozinho
Sem deixar que o fim te apavore
E termine só
Porque o amor começa
No momento em que você se sente só
E acaba no exato instante
Em que você deseja estar só
Não, eu te desafio
A registrar tudo desenfreadamente
A cada movimento alheio, lida e... Flash!
Congelado vendo sem enxergar
O abismo que te ameaça
Mas vá, rabisque com a luz
E selfie-se quem puder
Vê que os imensos sabem fazer falta
Não precisam ser suficientes
Para os que os idealizam
Nem renunciam a si mesmos
Para serem como os outros
Selfie or (not) selfy
That it's the question, see?
To be or not to be?
Se você não está onde está
É porque não aprendeu nada
Apesar da pressa
E do passar do (d) anos
Onde você está agora?
Eu não sou mais
O homem que antes era
Procuro um eu num idílio lírico?
Ou busco-me no equilíbrio que nunca tive?
(Eu não sei!)
As torres de marfim ruíram e estão no chão
E hão de se tornar uma tábula rasa
Numa fábula do meu coração
Ferido, fragmentado
Mas ainda vivo
Ainda bate
Ainda
Ame o que você tem
Antes que a vida te ensine a amar
O que você tinha
E hoje sabe que nada volta
Quem deixou de ser quando cresceu?
Quanto tempo faz que o faz de conta jaz?
Aceite o que não pode mudar
Você tem todo tempo que te resta
O que faz setembro, não faz outubro
Você só recebe do universo o que nele oferta
O que faz janeiro, não faz agosto
Você só recebe do universo o que nele oferta
Não se queixe do barulho
Se a felicidade bater à sua porta
E seu vizinho a convidar para entrar
Antes de você
O que faz fevereiro, não faz maio
Você só recebe do universo o que nele oferta
O que faz junho, não faz dezembro
Você só recebe do universo o que nele oferta
Atitudes, porque palavras
O vento leva para bem longe
(Bem longe de você)
Em qual multiverso do universo
Abririam as portas que você fechou?
Saiba disso
Quem te ama não te abandona
Nos momentos mais difíceis
E se a noite mais escura
Te convencer que mais ninguém vem
Ou se a bruma sussurrar-lhe ao ouvido
Que o silêncio é o último abrigo
Saiba, não é o fim
Não é o final
Só termina quando acaba
Enquanto houver vida
Não acaba aqui
Se há luz
Há vida
O fim só existe
Para quem não vê no recomeço
A chance de reescrever o capítulo
Quando a justiça não matou a sede
Ou quando a esperança esteve distante
Ou quando a lembrança esqueceu
Que tudo na vida tem jeito
E se não tiver, entenda
Não é o fim
Não é o final
Só termina quando acaba
Enquanto respirar, não acaba aqui
Onde as pessoas apenas desistem de ser
E existem sem viver
E vivem sem deixar vestígios
Fica, aguenta um pouco mais
Desaba, mas levanta
Não é o fim
Não acaba aqui
Não é agora
Se como eu triste for
Unidos a todos os tristes
E juntos quisermos
A tristeza vai desaparecer
E viveremos
Viveremos
Então é isso
De mim, há o restante
Meu pretérito já está ausente
No predicado que jaz, sou infuturo
Do desterro, revivente
Semimorto por resistir
Um átimo à mais que o inimigo
Mas não deserto
Nem sou tardio
Às vezes, eu só sei sentir
(Dum vita est, spes est)
Se, no futuro
Sós e distantes
Lembrarmos de nós
Não serei eu a te odiar
Nem tu a me amares
No presente me ausento
Amanhã deixo de fazer falta
O desaplauso é meu momento
E disto, não ardo
Sim, tardamos
Ao fardo que não superamos
Às vezes, a gente só sabe sentir
Muito e tanto
(Não!)
Suæ quisque fortuna faber est!
Que destino amargo
É aquele em que o desatino
Fez-nos esquecer de Deus
Quando tudo foi divino
Então mostramos o paraíso aos outros
E o destruímos
Salvemos o mundo, suplicamos
Sob o medo de tudo acabar
Para que tudo fique como está
Desde que inferno do outro fique lá
E diminuímos até desaparecermos
E minguamos até inexistirmos
Até o último minuto
Um último minuto
E eu diminuto